Com a retração dos investimentos públicos e privados em obras, as empresas que prestam serviços de engenharia estão parando. “Está se verificando uma retração bem acentuada nos serviços de engenharia, nas diversas áreas: civil, mecânica, petróleo e gás”, afirmou o pesquisador do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) Roberto Saldanha, gerente da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços) do instituto relativa a setembro.
Segundo o pesquisador, os serviços diversos de engenharia apresentaram as maiores quedas quando são abertos os detalhes do item serviços profissionais, administrativos e complementares cuja queda nas receitas verificada pelo estudo foi de 8,1%, uma das mais acentuadas. Para o pesquisador, tal resultado repercute o desaquecimento da economia como um todo e confirma que as empresas estão deixando de contratar e reduzindo os investimentos. No acumulado do ano até setembro, a retração deste tipo de serviço é menos intensa: de 3,1%. Se avaliar apenas a contratação de serviços profissionais, a queda foi de 9,6% no ano.
Para o economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio) Fábio Bentes, mais do que o desaquecimento da economia em 2015, com previsão até agora de se encerrar com uma queda de 3% do PIB (Produto Interno Bruto), os dados refletem os efeitos da inflação que inibe o consumo e também da reduzida confiança do setor que retrai novos investimentos.
“Se olhar os preços de cada um desses segmentos, o que teve a inflação mais alta na PMS foi justamente o setor de transporte. É uma inflação de 8,1% no acumulado do ano, de janeiro a setembro, comparado a igual período em 2014, enquanto que, na média das cinco atividades pesquisadas, a inflação tem 4,6%”, disse o economista.
A situação atual dos serviços de engenharia indica uma reversão do que aconteceu no país em torno de 2007. Naquele momento, o país iniciava um boom de obras públicas puxado, especialmente, pela decisão do governo federal de lançar projetos de infraestrutura e construção de moradias batizados de PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O crescimento dos serviços especializados de engenharia foi tanto que faltou profissionais disponíveis no mercado.
Exceções
Ainda relação à evolução dos serviços em setembro, a pesquisa do IBGE apontou que o setor aéreo é um ponto fora da curva. Depois da queda mais forte no mês de julho (-18,3%), o setor ensaiou uma reação que começa a dar resultado. Em agosto, cresceu 17,4% e em setembro, registrou nova alta de 4,5%. Com isso, no ano, passou a acumular variação positiva de 1,5%.
“O transporte aéreo constantemente faz reduções tarifárias. Isso faz com que aumente o fluxo de pessoas viajando”, disse Roberto Saldanha. O gerente da pesquisa do IBGE ainda ressaltou outro setor, o de tecnologia da informação. Enquanto os serviços de informação e comunicação crescem apenas 1% até setembro, em TI o crescimento é mais forte. Em setembro, a variação foi de 4,7% e, no ano, acumula 5,5%. Para Saldanha, esse é um setor de alto valor agregado, “que ganha muito em produtividade”, por isso o crescimento.
Mas Fábio Bentes acredita que a alta é reflexo também do impacto dos preços. “Pelo deflator da PMS, houve uma deflação de 0,9% no preço médio desse tipo de serviço, entre janeiro e setembro desse ano, contra igual período no ano passado”, disse. De acordo com o economista, foi o único segmento pesquisado pelo IBGE que registrou deflação nesse período.
Para ele, não se trata de uma simples coincidência o fato de o pior desempenho em volume de receita ser verificado no segmento com maior inflação e o melhor desempenho naquele que foi observado preços mais favoráveis ao consumidor.
Mercado de trabalho
Análise do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), com base nos dados referentes à PMS do IBGE em setembro, apontou que os dados, mais do que refletir recessão no setor, indicam aceleração da queda. Além disso, as atividades de serviços têm peso relevante no mercado de trabalho.
Da mesma opinião compartilha o economista Fábio Bentes. Para ele, os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de setembro, divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, já antecipavam que aquele mês seria muito ruim em serviços. “Foram fechados 84 mil postos de trabalho no setor de serviços no terceiro trimestre, pior resultado trimestral desde 2004”, explicou.
Segundo Bentes, mesmo analisando criação de vagas, o quadro permanece desfavorável. Houve fechamento de 150 mil vagas, na comparação setembro 2015 contra igual período em 2014. “O terceiro trimestre, do ponto de vista de atividade econômica do setor de serviços foi ainda pior do que o segundo trimestre, infelizmente. Tanto pelo lado da receita, quanto do emprego e que dá uma ideia da crise longa e aprofundada” que o país passa, afirmou.
Fonte: Fato online