Símbolo da engenharia nacional, a Petrobras abriu nova licitação para retomar as obras de construção da unidade de processamento de gás natural (UPGN) do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Para isso lançou concorrência no valor de R$ 2 bilhões e convidou 30 empresas. A surpresa é que nenhuma empresa brasileira participará do certame. Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Sergipe (Crea-SE), engenheiro agrônomo Arício Resende, a medida é lamentável e incoerente com a trajetória da estatal.
De acordo com Arício Resende, a substituição de empresas nacionais por estrangeiras nas grandes obras segue a um padrão recente de entrega das riquezas e serviços da empresa e não protege a estatal da corrupção. “Se quisesse mesmo enfrentar a corrupção, a Petrobrás mudaria o modelo de contratação das empresas e não apenas nacionalidade dos fornecedores”, avalia ele.
Das 30 companhias convidadas pelas Petrobras para participar do processo licitatório, nove não têm nem escritório no Brasil. A lista inclui fornecedores de diferentes nacionalidades, com a Chalieco e a australiana Energy Energy. Procurada, a Petrobras não explicou por que apenas estrangeiras foram convidadas a concorrer, mas a justificativa, segundo alguns veículos de comunicação, seria pelo fato de que as grandes construtoras nacionais estão envolvidas no esquema de corrupção da Lava Jato e proibidas de fechar contrato com a empresa;
Para presidente do Crea-SE, essa explicação não faz sentido, já que parte do pressuposto de que o Brasil possui apenas meia dúzia de empresas capazes de assumir uma grande obra. “Nós somos um país continental com uma Engenharia pujante. Presumir que apenas empresas estrangeiras teriam condições de assumir o Comperj é ofender os representantes altamente qualificados que temos no nosso Brasil”, ressalta ele.
De acordo com Arício Resende, a medida é adotada em um momento crucial para engenharia, um setor duramente afetado pela recessão econômica. “Tempos atrás, a economia brasileira estava aquecida e setores tradicionais de engenharia – construção, energia, petróleo e gás – possuíam grande demanda de profissionais. Mais recentemente, com a retração econômica e os escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras e grandes construtoras, os investimentos caíram, o mercado se desvalorizou e o número de projetos diminuiu. Hoje, engenheiros desempregados procuram alternativas em outras áreas, na contramão do que ocorreu nos últimos anos, quando o cenário era de escassez desses profissionais no mercado”, avalia Arício Resende.
O presidente do Crea acredita que a Estatal está sendo entregue nas mãos do capital estrangeiro, contrariando o que a Petrobras representa para os brasileiros. “Há um claro entreguismo dentro da maior empresa brasileira. Nós não podemos nos calar ao ver o maior símbolo da Engenharia nacional ser descaracterizado dessa forma. A Petrobras é nossa e nós temos toda capacidade de cuidar dela, com excelência técnica e ética profissional”, conclui Arício Resende.