Um grupo composto por oceanógrafos, biólogos técnicos agrícolas e estudantes de engenharia ambiental e engenharia agronômica estiveram na região da foz do São Francisco, em BrejoGrande (SE), para fazer um levantamento da vazão do rio São Francisco e para detectar a intrusão da cunha salina no estuário.
Os pesquisadores realizaram o levantamento no trecho do rio próximo à foz, na região costeira norte de Sergipe, para medir a velocidade da água utilizando as ondas sonoras, através do efeito Doppler, com o uso de um medidor tipo ADCP. “O objetivo do levantamento é analisar a atual vazão do rio São Francisco, bem como a influência da cunha salina no estuário, principalmente nos picos de maré enchente”, explica o oceanógrafo Jonas Ricardo, da equipe técnica do Laboratório Georioemar/ UFS.
Ele lembra que o estudo feito na região estuarina do rio São Francisco poderá indicar a influência que o rio sofre com o avanço da cunha salina nas suas águas, hoje afetando diretamente as populações ribeirinhas. “Com a diminuição da vazão, regulada pelas represas hidrelétricas, a cunha salina tende a adentrar mais o rio, tornando a água salobra e promovendo mudanças na sua qualidade para consumo, deixando de ser um recurso que possa ser utilizado diretamente, tanto pelas pessoas como pelos animais e plantas”, afirma.
Para Jonas Ricardo, a intrusão salina constitui uma ameaça potencial ao suprimento de água, tanto para abastecimento humano, quanto para uso industrial e animal. Por conta disso, há uma necessidade de se compreender os impactos atuais gerados pela regulação das vazões do rio, e compreender melhor a atuação de fatores relacionados à proximidade da linha costeira, à sazonalidade climática e às diminuições das vazões pelas usinas hidrelétricas.
Ele explica que o avanço da cunha salina ocorre quando a cunha de água salgada do mar avança ou se mistura com as águas doces do rio. “Com a grande vazão que o rio tinha antigamente, a força não permitia a entrada de água salgada. Os pescadores relatam que antigamente não acontecia o fenômeno da água salobra invadindo o rio. Hoje, isso ocorre com frequência principalmente com as marés de maior amplitude”, ressalta Jonas Ricardo, da equipe Georioemar-UFS.
A bióloga Neuma Rúbia, do Projeto Águas do São Francisco, doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFS), participou do levantamento na desembocadura do rio. Para ela, os ribeirinhos já sentem a água salobra e, caso a água do rio sofra uma maior influência da cunha salina, a comunidade poderá ficar sem água para consumo.
“O carro chefe da minha pesquisa é a analise da à cunha salina na foz do São Francisco, mas também analisaremos a água potável para consumo porque queremos dar uma reposta à comunidade”, diz. Esses dados farão parte da tese de doutorado por título Hidrodinâmica Ambiental na Foz do São Francisco, desenvolvida atualmente pela pesquisadora.
A influência da cunha salina no estuário do rio São Francisco e suas conseqüências estão sendo estudadas por pesquisadores do Laboratório Georioemar da Universidade Federal de Sergipe e do Projeto Águas do São Francisco/ Sergipetec.