Considerado o maior desastre ambiental, as manchas gigantescas de petróleo que se espalharam pelo mar do Nordeste brasileiro, desde o início de setembro, foi assunto em pauta no Fórum ‘Impactos do óleo no litoral de Sergipe’. O evento realizado nesta quarta-feira (23) com o apoio do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Sergipe (Crea-SE) trouxe para discussão, os prejuízos ambientais em todo litoral e que já chegaram a Foz do Rio São Francisco.
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Os danos resultaram, até o momento, na morte de 32 animais, principalmente tartarugas marinhas. Especialistas também alertam para uma possível contaminação da cadeia alimentar, sem contar os prejuízos para o turismo. A origem do óleo é um mistério. Três hipóteses são consideradas: naufrágio de embarcação, despejo criminoso ou acidente na passagem de óleo de um navio para outro.
O presidente do Crea-SE, engenheiro agrônomo, Arício Resende Silva destacou a importância do evento e a necessidade de trazer para a sociedade esclarecimentos sobre os prejuízos ambientais e, principalmente sobre as ações realizadas pelos órgãos públicos no monitoramento e solução do problema. “O Crea-SE não poderia ficar à parte das discussões em torno desse grave desastre ambiental que traz riscos a curto, médio e longo prazo, e que vão além da contaminação por si só. O Conselho está à disposição das autoridades para contribuir no que for necessário”, disse o presidente.
O evento promovido pela Associação dos Engenheiros Sanitaristas e Ambientais de Sergipe, com o apoio do Crea-SE, reuniu na sede do Conselho, engenheiros; pesquisadores; professores; representantes de entidades de atuação ambiental; órgãos públicos das esferas federal; municipal e estadual; movimentos sociais e estudantes. No Fórum, especialistas apresentaram avaliação sobre as causas, efeitos e soluções para o maior acidente ambiental em extensão do litoral do Brasil.
Cadeia Alimentar
Um dos assuntos destacados no Fórum pelo promotor de Justiça do Ministério Público de Sergipe (MPE-SE), Eduardo Matos, foi a possível contaminação de alimentos. “A possível contaminação do ambiente com o óleo que está sendo recolhido nas praias, tem sido uma preocupação da Instituição, tanto que em reunião realizada na Coordenadoria Geral do Ministério Público de Sergipe com a Universidade Federal ficou ajustado que a UFS fará exames na água, sedimentos, areia e alimentos (peixes e mariscos) para verificar se existe contaminação com elementos químicos derivados do óleo, com a finalidade de assegurar uma segurança alimentar e um ambiente ecologicamente equilibrado. A previsão é que a coleta para análise seja iniciada na próxima segunda-feira”, afirma o promotor.
Rio São Francisco
As manchas de petróleo já chegaram a Foz do Rio São Francisco, nas regiões de Ponta dos Mangues, no município sergipano de Brejo Grande e no município alagoano de Piaçabuçu. ‘É uma situação extremamente preocupante porque a foz do Rio São Francisco e sua região estuarina configuram um ecossistema de alto valor para a reprodução das espécies fluviais e marinhas. A região tem também um banco de camarão, além de ser área de desova de tartarugas e ter uma coleção de manguezais”, relata Edson Campos, membro da Câmara Técnica Institucional da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco ao frisar a necessidade de buscar ações mais eficazes para garantir a atividade econômica na região, o que consiste na sobrevivência e na subsistência das comunidades ribeirinhas.
Morte de animais
Tartarugas, peixes e crustáceos encontrados agonizando ou mortos na faixa de areia, as margens dos rios e também manguezais tornou-se uma cena cotidiana por conta óleo nas praias do Nordeste. A afirmação é do analista do Projeto Tamar e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Erik Allan Pinheiro. Em sua apresentação no Fórum, ele afirmou que, até o momento, foram registrados no litoral sergipano, 32 animais oleados, sendo 15 tartarugas marinhas. “Até agora sete tartarugas morreram e as outras oito estão em tratamento”, disse.
De acordo com o analista, o Instituto Chico Mendes de Conservação vem somando esforços no combate às manchas de petróleo no litoral nordestino. Voluntários, brigadistas e servidores estão trabalhando em ações de monitoramento de tartarugas marinhas e do peixe-boi marinho Astro, além de pesquisa de campo, educação ambiental e limpeza de praias e estuários.
Acadêmicos de Engenharia
O estado de Sergipe abriga a Reserva Biológica (Rebio) de Santa Isabel, unidade de conservação federal que protege 45 km da costa sergipana e é área de reprodução das tartarugas-marinhas. No último dia 14, o Centro Tamar abriu edital para recrutar 15 voluntários dispostos a contribuir com as atividades da Operação Sergipe. Os selecionados são alunos dos cursos de Geologia e Engenharia de Pesca da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Sob coordenação do ICMBio, o grupo conta, ainda, com a orientação e o apoio da professora Cristine Lenz, do Departamento de Geologia da UFS.
Análise UFS
O Fórum também contou com a participação do pesquisador Alberto Wisniewski, professor do Departamento de Química da Universidade Federal de Sergipe. Responsável pela condução de uma análise do material encontrado nos barris e nas praias de Sergipe, o pesquisador explicou que os óleos têm características e aspectos diferentes, mas apresentam correlações moleculares que indicam “parentesco”.
“Constatamos que se trata de produtos diferentes, porque possuem aspectos físico-químicos diferentes, embora possuam a mesma fonte molecular. Portanto, é mais um elemento para a investigação que está sendo feita pela Marinha do Brasil, sobre a origem do derramamento de óleo no litoral”, disse.
Monitoramento das praias
Em sua apresentação, o coordenador-geral da Defesa Civil de Aracaju, Major Sílvio Prado disse que todos os dias, 22 quilômetros de praias são monitorados por terra e ar, este segundo sendo feito através de drones. “As informações constantemente atualizadas permitem uma atuação estratégica e integrada entre os órgãos municipais que estão diretamente envolvidos na adoção de medidas, para auxiliar na redução do impacto desse desastre ambiental”, garante o Major.
Liberação de verbas
O diretor da Adema, Romeu Boto apresentou o plano de ação que está sendo executado pelo governo do Estado para conter o avanço das manchas de óleo e trouxe novidades em relação à ajuda do governo federal. “O Ministério do Desenvolvimento Regional anunciou a chegada de mil kits de equipamentos de proteção individual para limpeza das praias e a liberação de R$ 2,58 milhões para Sergipe empregar na limpeza das praias e demais localidades sergipanas atingidas pelo óleo cru”, disse Romeu.
Organização das Nações Unidas
A presidente da Comissão de Direito Urbanístico e Ambiental da OAB-SE, Robéria Silva trouxe para conhecimento os aspectos jurídicos da situação e as legislações cabíveis no caso. Também propôs acionar a ONU. “ Todos os indícios são de que o derramamento de óleo ocorreu em águas internacionais, por isso seria preciso acionar a Comissão de Segurança e Controle da ONU, a fim de também compartilhar e fazer a investigação, pois até o momento não se sabe quem causou este desastre ambiental”, explica.
Para a presidente da Associação dos Engenheiros Sanitaristas e Ambientais de Sergipe, Vitória Caroline Oliveira Souza, o evento alcançou seus objetivos ao reunir em um mesmo espaço, especialistas para discutir a problemática do derramamento de óleo no litoral nordestino e, em especial no litoral de Sergipe. “As circunstâncias exatas do vazamento de petróleo ainda não estão claras, mas a gravidade desse incidente para o meio ambiente e para a economia das cidades afetadas é evidente. Ainda há muitas perguntas sem resposta, por isso é fundamental que toda a sociedade tenha conhecimento e acompanhe de perto os danos e as ações em busca de solução”, avalia Vitória.
Texto: Iris Valéria de Azevedo
Assessora de Comunicação do Crea-SE