Artigo: Engenheiro, uma profissão cortejada – por Jacir Venturi
Clássica e recorrente é uma das definições de engenheiro: um solucionador de problemas. Decorrente de sua formação que estimula o raciocínio lógico, é um cartesiano, que se soma às características pragmáticas e utilitárias das disciplinas técnicas estudadas no curso. No entanto, para fazer jus à essa definição, necessita também de instintos darwinistas: flexível, versátil, capaz de se adaptar às elevadas exigências do mundo hodierno. E nunca se falou tanto em humanização da engenharia e, neste mister, um construtor de pontes, em vez de muros.
Hoje é uma profissão cortejada, com elevada empregabilidade. Prenuncia-se um apagão de engenheiros no Brasil e seguramente é um dos gargalos já percebidos pelas indústrias, construtoras e serviços públicos. A necessidade de nosso país demandaria 60 a 80 mil novos engenheiros por ano, porém diplomam-se apenas 42,8 mil (Gazeta do Povo, 5/9/13, com dados de 2011). O México, 114 mil; Coreia do Sul, 80 mil; China 650 mil. Apenas 6% dos universitários brasileiros são concluintes de uma das engenharias, enquanto nos países asiáticos e na maioria dos países desenvolvidos esse índice varia de 15 a 35%.
No Brasil, duas singularidades agravam a carência desses profissionais:
a) apenas 48% atuam na área de engenharia após diplomados. A outra parte é cooptada para a gestão, finanças, informática, docência, consultoria, etc.;
b) 57% dos ingressantes evadem-se da graduação.
A melhor metáfora é a de um funil, de boca larga e dois bicos estreitos de saída. Ou, didaticamente, em números redondos: de cada dez calouros de engenharia, quatro recebem o diploma, sendo que dois exercerão a profissão e outros dois seguirão áreas afins.
As causas da elevada evasão são sobejamente conhecidas: a aridez e alto nível de cobrança das disciplinas dos dois primeiros anos, que se agrava com os parcos conhecimentos em Matemática e Física – de boa parte dos calouros. Os bons fundamentos das Ciências Exatas são imprescindíveis – fazem a diferença entre o engenheiro e um bom mestre de obra. Cabe uma analogia trivial: para uma edificação ser sólida e sem rachaduras, é imprescindível que boas sejam as fundações ou baldrames.
A valorização das engenharias não é percebida só pelo mercado. É vultoso o incremento de ingressantes e a abertura de novas faculdades. Saltou de 454 cursos em 1995 para 3.045 em 2013. Qual o curso com maior número de calouros em 2013? Quem acertar ganha uma régua de cálculo (vixi, se você conhecer algum engenheiro sexagenário, ele terá uma bela história para contar). Resposta: historicamente, foram Administração e Direito, e hoje são as engenharias – considerando as 60 habilitações existentes no país. Em SP, o número de ingressantes em Eng.ª Civil em 2012 foi 49% superior a 2011, enquanto Direito incrementou 5% e Administração estacionou.
Um resultado auspicioso surpreendeu os paranaenses, donde se infere uma elevação no nível dos candidatos. No último vestibular da UFPR, as quatro melhores médias foram dedicadas às engenharias (na ordem: Mecânica, Civil, Elétrica e Química). E à Medicina a 5.ª colocação. Ademais, a elevação na relação candidato/vaga é um fenômeno que se estende para todo o Brasil. Nas faculdades públicas de SP, o curso de Eng.ª Civil foi o 2.º mais procurado, abaixo apenas de Medicina.
Com a vigorosa expansão das faculdades, um dos maiores gargalos está na contratação de engenheiros para a carreira acadêmica. Para certas disciplinas há uma blague: “dormiu engenheiro, acordou professor”. Após o ingresso, muita capacitação para se ter um bom docente.
Um estudo que tem a credibilidade do IPEA (publicado em nov./13) revela que a contratação de engenheiros até 2020 apresentará uma taxa de crescimento de 10,5%. Muito superior será a necessidade para a extração e refino de petróleo e gás (28%). Hoje o Brasil dispõe de 937 mil engenheiros, porém apenas 300 mil atuam na área. É pouco, muito pouco, sendo verdade que 70% do PIB de uma nação depende das engenharias. E a carência de profissionais é uma das responsáveis pelo significativo índice de desperdício e erros, que vai do planejamento à execução.
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Jacir J. Venturi, engenheiro, Coordenador Didático da Engenharia da Universidade Positivo e professor aposentado da UFPR e PUCPR.
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