O programa de certificação de profissionais do grupo Agronomia está mais próximo de ser efetivado. No dia 7 de agosto, a Sociedade Americana de Agronomia (ASA, na sigla em inglês) aceitou a missão de construir o modelo de certificação em conjunto com a comissão temática do Confea, como sinaliza o conselheiro federal, eng. agr. Luiz Lucchesi. “Será um projeto único no mundo por contemplar uma visão holística da profissão”, pontua o coordenador do grupo.
O ineditismo do programa é explicado pelo fato de a formação de engenheiros agrônomos no Brasil ser mais abrangente do que nos EUA, onde o conteúdo é basicamente voltado para produção vegetal, com ênfase em culturas como soja e milho, e com a possibilidade de aprofundamento de conteúdo em solos e fitossanidade.
No Brasil, a graduação, além de contemplar esses grandes temas, abriga o ensino de conteúdos relativos a economia, geociências, zootecnia e engenharia, apresentando técnicas de construções rurais, mecanização agrícola e logística, pós-colheita de produtos agropecuários, geoprocessamento e georreferenciamento, dentre outros assuntos definidos pelas diretrizes curriculares do Ministério da Educação. “Nossa abrangência é maior e a tônica do momento, especialmente neste contexto de crise mundial, demonstra a necessidade de se ministrar disciplinas com ampla dimensão de conteúdos, a fim de garantir visão holística à formação dos profissionais que, em última análise, gerenciarão a segurança alimentar, a sanidade da produção agrícola e a conservação do ambiente. É assim que se confere credibilidade aos nossos produtos, e a garantia de que são produzidos de forma sustentável, demonstrando isso para a sociedade e para os clientes internacionais”, afirma Lucchesi, que também é o coordenador da Comissão de Educação e Atribuição Profissional (Ceap). Nesse sentido, a ASA demonstrou interesse na parceria com o Confea. “Para a entidade norte-americana, será uma oportunidade de aprimorar o processo de certificação”, acrescenta.
Na avaliação do eng. agr. Annibal Margon, integrante do comitê temático e coordenador da Comissão de Ética e Exercício Profissional (Ceep), o “acordo de certificação é um marco histórico tanto para o Confea como para a Confaeab [Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil] e mesmo para os americanos, pois vai evidenciar a importância do aprimoramento profissional para a agricultura que mais cresce no planeta”.
O presidente da confederação brasileira concorda e diz enxergar o projeto como forma de aproximar mais as instituições que lidam com atuação profissional das duas nações que são líderes na produção agrícola mundial. “Assim como a Confaeab reúne engenheiros agrônomos que desenvolvem diversas atividades, a ASA é a entidade dos Estados Unidos que congrega profissionais que atuam na agronomia. Portanto, há natural comunicação entre as instituições e a questão da certificação vem para unir de fato as entidades a bem do aprimoramento profissional e pela agricultura dos países”, observa o componente da comissão, eng. agr. Kleber Santos.
Comprovação
O projeto do Confea prevê o reconhecimento das informações profissionais, desde as disciplinas cursadas no Brasil até as respectivas atribuições profissionais, por meio de certidões a serem fornecidas pelo Sistema Confea/Crea à Sociedade Americana de Agronomia. Além disso, o profissional será submetido à comprovação de conhecimentos técnicos, mediante avaliação, a qual provavelmente será realizada em parceria entre a ASA e uma entidade brasileira, a ser definida ainda. O profissional deverá comprovar, no mínimo, cinco anos de experiência, por meio das respectivas Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) e Certidões de Acervo Técnico (CATs). “Essas exigências farão com que o profissional se preocupe mais com todas as atividades que desenvolve. Elas serão para benefício do próprio engenheiro que deseja estar mais preparado e competitivo no mercado, onde os melhores se destacam cada vez mais”, ressalta Annibal.
A previsão da Comissão Temática de Certificação de Profissionais do Grupo Agronomia é que a partir do plano de ação Confea/ASA, o projeto esteja concluído em janeiro de 2021, para depois ser definida a entidade que irá aplicar a avaliação para os primeiros candidatos. A questão da revalidação está em debate, mas a ideia é utilizar a experiência de décadas da Sociedade Americana de Agronomia, ajustando-a à realidade do Brasil, segundo o coordenador do grupo no Confea.
Benefícios
Certificação é o padrão pelo qual os profissionais são avaliados em determinados temas. É um aprimoramento voluntário que funciona como credencial profissional, e eventualmente é aceito em outros países. “O profissional certificado tem melhor reconhecimento, pois demonstra que seu conhecimento é aprofundado e o tem atestado”, explica Lucchesi.
Outro benefício em obter certificação é ser mais bem avaliado por clientes e fornecedores, como frisa o eng. agr. Clóvis Albuquerque. “É uma sinalização que permite que o consumidor se sinta mais seguro na hora da contratação. A certificação confere mais credibilidade e transparência na prestação de serviço. Com isso, o público se sente protegido”, salienta o especialista em sementes, diretor técnico da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Primavera do Leste (MT) e ex-conselheiro do Crea de Mato Grosso, participante do comitê do Confea.
No mercado globalizado, a certificação agrega valor aos produtos, de acordo com o doutor em agricultura e conselheiro federal suplente, eng. agr. Laerte Marques. “Companhias que contam com profissionais certificados oferecem ao mercado internacional mais garantia de qualidade, passando a ocupar um lugar de vantagem diante dos concorrentes, ou seja, a certificação funciona como diferencial no processo produtivo; principalmente com a pandemia, em que o padrão sanitário passou a ser ainda mais exigido”.
Do mesmo modo, o profissional que tem certificações tende a ocupar melhores colocações, destacando-se em processos seletivos, por exemplo. “Essa qualificação facilita contratações, dá vantagem ao profissional em prova de títulos em concursos e licitações, além de viabilizar o reconhecimento financeiro”, complementa o membro do comitê brasileiro.
Com a difusão de programas de certificação no Brasil, a tendência é de que o sistema de ensino seja estimulado a aprimorar a formação profissional, considera Laerte, que ocupa o cargo de professor do Departamento de Engenharia Agronômica da Universidade Federal de Sergipe. “As instituições de ensino tenderão a ser reconhecidas pelo número de egressos aprovados em certificações”. “Espera-se que as instituições de ensino superior primem mais pela qualidade da educação oferecida e que a necessidade de se adotar padrões mais elevados iniba a proliferação de cursos e a pulverização de títulos na área da Agronomia” é a aposta do coordenador da Ceap, Luiz Lucchesi.
Histórico
Em 2019 o Confea e a ASA assinaram memorando de entendimentos para que fosse estudada a viabilidade de se estabelecer um programa de certificação específico para engenheiros agrônomos formados no Brasil. A ASA já tem programas de certificação para profissionais norte-americanos.
Desde o início, busca-se uma aproximação com a entidade norte-americana a fim de traçar um programa específico para profissionais brasileiros chancelado pela ASA. Para o avanço deste processo, no início de 2020, a Comissão Temática de Certificação de Profissionais do Grupo Agronomia do Conselho Federal listou as atribuições profissionais definidas por lei no Brasil, com base nas diretrizes do Conselho Nacional de Educação e em ementas de alguns cursos. Também elaborou ementário padrão que foi enviado à ASA em português e em inglês, constituindo a proposta que desde então vem sendo objeto de discussão e negociações entre as duas instituições.
Confira o que foi tratado até o momento:
– Confea avança nas tratativas de acordo com entidades norte-americanas de Agronomia
– Primeiros passos para a certificação profissional no Sistema
Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Confea
Colaboração: Assessor da Comissão Temática de Certificação, eng. agr. Flávio Bolzan