Em 2010, 63% de todos os títulos acadêmicos de nível superior concedidos no País foram para as mulheres. Elas são maioria – representando de 52% a 77% do total de títulos – nas áreas de educação; humanidades e artes; saúde; ciências sociais, direito e administração; e serviços. No entanto, nos setores de engenharia ainda estão em minoria, em torno de 30%. Os dados constam de artigo do jornalista Carlos Orsi, publicado na Revista Ensino Superior, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2012.
É nesse universo que muitas mulheres têm realizado o sonho de se formar na área. Foi assim com Evelina Bloem Souto, a única a receber o diploma na modalidade civil na Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), em 1957. E é assim, após 60 anos, apesar da realidade ter mudado bastante, como constata estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a pedido da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE). Em 2003, elas representavam 16,8% do total dos empregados; em 2009, eram 18,7%; e em 2013, atingiram o patamar de 20,8%%.
Sergipe acompanha o cenário nacional. Em 2000 eram 402 profissionais registradas no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Sergipe (Crea-SE). Hoje já são 2.432 engenheiras que obtiveram a carteira profissional, um aumento que corresponde a 83,47% e que reflete de forma bastante positiva no mercado de trabalho. “O percentual ainda é pequeno se pensarmos a importância que têm as mulheres para o conjunto da sociedade e também em vários outros órgãos da administração pública. Mas a tendência é esse número crescer ao longo dos próximos anos”, afirma o presidente do Crea-SE, engenheiro agrônomo Arício Resende.
O presidente ressalta ainda que hoje, a presença feminina nos quadros funcionais do Conselho chega a 71,43% do total de colaboradores. “Além disso, funções estratégicas são realizadas por mulheres”, disse o presidente ao ressaltar que das nove gerências, sete são comandadas por mulheres.
“As conquistas femininas no campo da engenharia, vem crescendo cada vez mais. No entanto estes avanços não representam facilidades para obtermos sucesso nesse meio, predominantemente masculino. Assim como tantas, desde o início da carreira, enfrentei uma desvalorização profissional por ser mulher. Mas, ao longo da minha caminhada fui conquistando espaços, e constatando que a convivência com homens é positiva, porque eles supostamente nos dão mais espaço, enquanto companheiras do mesmo gênero procuram competir. Contudo, seja qual for nossa caminhada é notório que a mulher precisa se esforçar mais do que o homem para ser respeitada e crescer no mundo da engenharia. Porém, este requisito não se dá por qualquer dificuldade que tenhamos em exercer a nossa profissão, pelo contrário, as conquistas femininas na engenharia mostram que, atualmente, nos destacamos tanto quanto ou até mais que nossos colegas engenheiros”.
Ruskaja Cunha Sandrin
(engenheira civil e assessora de Política Institucional do Crea-SE)
“Na época da minha graduação, a turma era formada por homens em sua maioria, mas não havia distinção. Um fato que me marcou foi de valorização de um determinado professor. Em sua aula prática os alunos estavam dispersos, de uma forma espontânea, peguei a enxada e coloquei a mão na massa. Ele falou: Essa mulher vale mais que dez homens. Isso me abriu muitas portas, as melhores experiências profissionais na graduação surgiram de oportunidades que ele me apresentou. Após minha formatura, a única frustração foi saber que não fui selecionada para trabalhar numa multinacional por ser mulher. Somente por isso! Algum tempo depois fui chamada para trabalhar no CREA e sempre me senti valorizada e estimulada a me aprimorar. Tudo que conquistei eu devo às experiências ao longo desses anos. Observo também que a engenharia agronômica apresenta campo mais igualitário nas mais diversas vertentes da profissão”. (Paula Braz-(engenheira agrônoma e coordenadora do NART
“Sou técnica em edificações desde 1997 e engenheira civil desde 2005. Desde então, pude observar que nas universidades um maior número de mulheres tem ingressado nos cursos de engenharia e que em algumas delas, somos maioria, e isso vem mudando o mercado também, que aos pouco tem recebido mais mulheres em funções antigamente majoritariamente desenvolvidas por homens. Muito há que se conquistar ainda. Apesar de já termos conseguido equiparar os salários de homens e de mulheres na iniciativa pública, não temos as mesmas oportunidades que eles, e na iniciativa privada, continuamos ganhando 70% menos. Hoje, sou vice- presidente do Sindicato dos Engenheiros em Sergipe (Senge-SE), o que já considero um grande avanço, e continuarei militando para promoção do empoderamento feminino dentro da engenharia”. ( Elaine Santana Silva-(engenheira civil/técnica em edificações e assessora do NART )
“Na minha carreia, me deparei principalmente com o desafio, que acredito, todas as minhas colegas de profissão passaram. A área da engenharia é bastante machista, o que dificultou minha inserção no mercado. Percebia a dificuldade dos meus subordinados em receberem demandas de uma mulher. Entendo que é um problema cultural, mas sigo militando na desconstrução dele. Hoje, sou fruto das mudanças que vêm ocorrendo no mercado de trabalho. Hoje, sou técnica em edificações e gerente de fiscalização do Crea-SE”.
Liliana Pereira Filho
(Técnica em Edificações e gerente de Fiscalização do Crea-SE